Capítulo 15 O usuário de YouTube / Twitch / Instagram

Este usuário deve ser considerado como um dos usuários casuais, mas os efeitos são tão ardilosos que se torna uma questão digna de um capítulo à parte. Este tipo de uso leva ao colapso do autocontrole, de modo que quase levou a uma separação no casamento de um usuário do fórum NoFap:

“Eu estava havia três semanas sem usar. A vontade de parar de largar o vício foi motivada pela preocupação da minha esposa com as minhas ereções instáveis e com a minha falta de interesse. Eu disse que o problema não era com ela, mas que era devido ao estresse relacionado ao trabalho. Ela me disse,”eu sei que você já suportou esse tipo de pressão anteriormente, mas como é que você se sentiria se você estivesse no meu lugar e tivesse que assistir uma pessoa que você ama destruir a si mesma de forma sistemática?” Foi um argumento irresistível, e eis o motivo da minha tentativa de parar de usar. Ela sabia que eu não a estava traindo, mas isso é, de uma certa forma, ainda pior do que trair. A tentativa de parar acabou três semanas depois, culminando em uma discussão acalorada com um velho amigo. Por anos após o ocorrido eu nem sequer havia percebido que foi minha mente, agindo de maneira desonesta, que resolveu começar a discussão de propósito. Eu me senti justificavelmente enfurecido no momento, mas não acreditava que fosse uma coincidência, já que eu nunca havia discutido com esse amigo em particular, nem tornei a discutir com ele novamente desde então. Era claramente ação do pequeno monstro.

Ainda assim, eu tinha minha desculpa. Eu precisava, desesperadamente, de uma válvula de escape, não importava qual fosse. Minha esposa não estava no clima, e eu senti como se eu tivesse o ‘direito’, então eu convenci a mim mesmo que estaria tudo bem se eu me ‘restringisse’ a evitar sites pornô e ficasse ‘deste lado da linha’, assistindo apenas vídeos no YouTube. Mas minha esposa, no meio da noite, acabou ‘entrando no clima’ e quis fazer amor. Contudo, eu estava cansado e sem a minha ‘força’, então eu inventei que estava com dor de cabeça. Eu não conseguia nem pensar no desapontamento que isso causaria na minha esposa. Gradualmente, então, eu retomei os velhos hábitos, com o YouTube se tornando meu novo harém. Eu lembro de ter me sentido bem satisfeito naquela época, acreditando que eu estava ao menos diminuindo o meu consumo. Eventualmente, ela me acusou de continuar a ignorá-la na cama. Eu não tinha percebido, mas ela descreveu as múltiplas vezes em que eu provoquei uma briga e saí de casa, descontrolado. Em outros momentos, eu cheguei a levar duas horas para comprar qualquer coisinha e inventar que estava com dores na perna. Eu inventei desculpas ridículas para não precisar ter relações com ela para poder mais tarde aproveitar melhor o meu harém digital.”

A pior coisa que acontece com o usuário de YouTube é que esse tipo de comportamento ajuda a manter a falácia de que eles estão sendo privados de alguma coisa. Simultaneamente, essa atitude causa grandes estragos no senso de dignidade e amor-próprio do usuário. Uma pessoa, que em outras condições poderiam ser tomada como honesta, pode forçar a si mesma a enganar seus entes queridos. Provavelmente isso já aconteceu ou ainda acontece com você de uma forma ou de outra.

Estes tipos de website, como o Twitch e o Instagram (e a maior parte das redes sociais), são majoritariamente movidos pela suplementação. Os usuários, levados pela fissura por dopamina e pela busca por estímulos sempre novos, enganam a si mesmos e se fazem acreditar que estão em um site seguro. Lembre-se: a excitação está na caçada, na procura, e não obtenção, e o pequeno monstro não se importa com o lugar de onde vem a sua dose. Para o usuário, o conteúdo ‘leve’ que recebe em seus feeds em múltiplos sites dá a ele um alívio temporário dos sintomas de abstinência, o que os mantém viciados e à espera da próxima sessão.

A modelo na imagem ou no vídeo certamente é bonita, e se você a tivesse ao seu lado neste momento ela com certeza poderia te dar prazer. Mas essa imagem não pode. Ela simplesmente não é real. Essas imagens, esses vídeos, enganam o seu cérebro como um touro correndo em direção a uma capa vermelha, e depois não entende por que fez isso. O usuário, então, pode ter a ideia de que pode olhar para estas imagens sem se masturbar. Mas lembre-se que seu cérebro está viciado pela infinita torrente de estímulos novos, e o pequeno monstro não se importa de onde é que a dose vem. É a mesma armadilha.

Você talvez tenha assistido a série de TV chamada Columbo. O tema de cada episódio é parecido: o vilão, geralmente um empresário rico e respeitado, cometeu o que ele está convencido ser o assassinato perfeito, e a sua confiança na impossibilidade de seu crime ser descoberto é reforçada quando ele descobre que é o maltrapilho e nada impressionante detetive Columbo que está encarregado de investigar o caso.

Columbo tem essa frustrante prática de fechar a porta após ter terminado o interrogatório e assegurado ao suspeito que ele está limpo. Mas logo antes da expressão de satisfação desaparecer do rosto do assassino, Columbo reaparece, dizendo “só mais uma coisinha, senhor, que eu tenho certeza que você pode explicar…” O suspeito então começa a gaguejar, e daí em diante ele sabe que Columbo gradualmente irá desmascará-lo. Não importa quão hediondo é o crime: daquele em momento em diante, o coitado é o homicida.

O padrão é semelhante: a tensão que sentem os usuários de não poder ‘cruzar a linha’ para consumir a dose de pornografia que eles ‘merecem por direito’, e então a indagação após ter terminado o ato: onde é que está o prazer nisso? O medo de cruzar a linha, perder o controle e voltar para a cama, e então ser tomado pelo medo de que sua parceira pode querer fazer sexo. Na medida em que os vídeos ‘seguros’ não mais trazem satisfação devido à dessensibilização, ausência de estímulos novos, e um certo conhecimento de que cedo ou tarde você vai visitar seu harém virtual. E então, a humilhação e vergonha finais, oriundas da transformação desta certeza em fato, seguida pelo retorno imediato ao consumo frequente.

AH, A ALEGRIA DE SER UM USUÁRIO!